quarta-feira, 7 de março de 2012

"O programa segue dentro de momentos"




Durante muito tempo foi esta a solução encontrada para resolver as pausas forçadas nas emissões. Se perguntarmos aos nossos pais e avós sobre os fundos peculiares que apareciam em grande plano sempre que ocorria alguma falha técnica na transmissão de programas do recente canal, a resposta seria a mesma: “o programa segue dentro de momentos”, enfatiza o meu avô, com voz de gozo, como quem imita uma criança. Passados muitos anos, a mensagem que transmite o sinal de avaria mantem-se. Foram precisas duas décadas de experiência para que esta imagem de fundo desaparece-se.
 
E hoje? Como seria hoje, se a meio do horário nobre surgisse das profundezas do minúsculo ecrã uma imagem, desta feita a três dimensões, ou mesmo em HD, High Quality, com um boneco animado e uma mensagem com indicações de interrupção da emissão por problemas técnicos? A impossibilidade de tal acontecer inviabiliza quaisquer situações que pudessem surgir na minha mente mundana de quem nasceu no século XX, e de quem passou um milénio.
Nasci com toda a tecnologia ao meu dispor. Lembro-me de ver vezes sem conta o Rei Leão e os 101 Dálmatas. Lembro-me do “tijolo” que era o primeiro telemóvel da minha mãe. Lembro-me da primeira vez que toquei num computador. E sobretudo, lembro-me do velho aparelho “Sony” – sim, porque quando a minha mãe se casou, os televisores “Sony” estavam na moda – à frente do qual eu passei horas e horas a ver os meus programas favoritos. Sempre tive escolha. Desde pequena que tive os quatro canais à minha disposição, e ouvir falar em televisão a preto e branco sempre me pareceu uma anedota, ou um daqueles filmes super antiquados, em que ninguém fala e que as mensagens são transmitidas por gestos.
Hoje é dia 7 de Março de 2012. Há precisamente 55 anos atrás teve início a primeira emissão regular da RTP. E coincidência, ou não, há exactamente 32 anos deu-se a primeira transmissão a cores deste canal. Não tive o prazer de estar à espera do rebentar da bomba; aquela contagem decrescente que deixa um “friozinho” na barriga a todos os que estão por detrás e à frente das câmaras fascina-me; e aquela ansiedade de quem jamais vira um televisor e de quem aguarda nervosamente a oportunidade de ver, pela primeira vez, pessoas a movimentarem-se de dentro de uma caixa, geralmente preta, com som e a preto e branco.
Cerca das 21.30H começa o genérico da RTP. É ao som de “Derby Day” que a primeira emissão tem início. É com a voz de Maria Helena Santos que a emissora nacional arranca. Marcada pelo nervosismo e por constantes falhas, a primeira transmissão da RTP decorre de acordo com o esperado, e é considerada por muitos como um êxito.
Passados tantos anos, para uma geração que sempre viveu, que cresceu, que deu os primeiros passos e que dará os últimos rodeada de tecnologia, é impensável sequer imaginar um mundo onde a televisão não exista; é inconcebível a ideia de não poder, através de um simples botão, ter acesso ao mundo, sim, porque a televisão, acima de tudo, possibilitou-nos e facilitou-nos o acesso a qualquer parte do globo.
Há 55 anos ao som de “Derby Day”, hoje através de “Portugal é RTP”:
“Eu estarei onde tu estiveres
Eu serei o que tu quiseres
O teu ver para crer, como fui
Desde a primeira vez
Estou onde queres que eu esteja
Sou o que quiseres que eu seja
A tua alma, a tua força, a tua voz principal…
A tua imagem no espelho
Afinal… Portugal é RTP”

                                                                                                                                      Joana Silva

Visite o museu virtual da RTP e fique a saber mais sobre a História da emissora nacional: http://museu.rtp.pt/



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